Era uma vez…
Por Sara Bernardes
Em um reino não muito distante daqui, havia uma família que gostava de brincar de faz de conta. Marido e mulher combinaram que teriam filhos e até planejaram, com muito esmero e expectativa, a chegada do primeiro filho. O bebê nasceu! Tudo era alegria e novidade! Que felicidade! Mas havia um “porém”. Não, dois “poréns”! Mamãe e papai gostavam de brincar de outras atividades.
A mãe, exímia profissional em alta costura, entre mamadas e sonhos, mal podia esperar o tempo da licença maternidade para voltar a recortar seu novo desenho fashion. Aquele que estaria nas vitrines das megastores das metrópoles. O pai, um executivo atarefado, deixou verter nos balbucios direcionados ao seu rebento toda a irritação da sua alma infantil. Ah, ao tomar o bebê nos braços, o pai infantilizava ao máximo a sua fala, fazendo como os adultos fazem ao “conversar” com os bebês, como se esse dialeto pueril realmente existisse.
O bebê cresceu, desenvolve-se rapidamente. Passaram-se quatro meses. A mãe retomou as atividades profissionais e, agora, dividia-se entre deixar a criança com a babá, no berçário ou, ainda, vez por outra, com uma das vovós… Ah sim, as vovós!
O pai? O pai continuava se aperfeiçoando no seu dialeto pueril. Mas o bebê, agora, queria aprender novas sílabas e palavras, desenvolver o seu idioma materno, aquele lá do início do faz de conta. O vocabulário do amor. Ah, ele queria tanto! O pai, porém, o segurava no seu linguajar infantil… era mais fácil… Para o pai, claro. Incrível!
Qual era a crise? Na verdade, ninguém queria descobrir, porque senão ela teria de ser solucionada. Melhor ignorá-la.
Foi, então, que pai e mãe, em linguagem não verbal, fizeram o acordo ‘faz de conta’. Você faz de conta que é mãe, eu faço de conta que sou pai e nós fazemos de conta que educamos o nosso filho. Lastimável!
Assim, decidiram contratar uma babá porque… São muitos os porquês, não tente explicá-los! As avós? Ah, sim… Bem, elas estavam brincando de serem avós. De vez em quando, a cada seis meses, iam visitar o netinho e levar um presentinho. Patético!
Então, ocorreu que o lindo e tão sonhado bebê foi obrigado a passar dez horas por dia em um local chamado berçário, que passou a ser “lar adotivo” para milhares de bebês e crianças da primeira infância…. Traumatizante!
Os pais, que gostavam de brincar de faz de conta, passaram a interagir com o nenê somente nos fins de semana (claro, se a agenda social lhes permitisse). E a família era uma história de faz de conta… Eles faziam de conta que eram pais, e o bebê… bem, ele nem podia imaginar nada, porque nem isso havia aprendido. Coitado!
Ocorre que o tempo passava e passava. É, o vovô sempre dizia que quem se atrasa perde o bonde. Mas não era o bonde do horário do próximo jogo de futebol, nem da novela das nove, muito menos do telejornal encomendado pelas marcas globais. O bonde que eles perdiam era o do sonho sonhado enquanto namoravam. Insensibilidade!
De tão distante a imagem ficou, pela ausência de registros ou rabiscos de desenhos reveladores dos devaneios dos pensamentos apaixonados pela química do amor incipiente, os planos perderam-se no tempo, evaporaram-se. Amnésia emocional!
Estavam perdidos. “Qual é mesmo a minha identidade?” Ah, estavam como primitivos a vaguear nas ondas das emoções primárias, governadas pelas reações neurológicas a determinados estímulos externos, foram levados na onda da maioria e esqueceram-se de escrever, cada um, sua história. O neuromarketing explica. Terrível!
Qual era mesmo a crise? Ela estava pior, bem pior, mas ainda era melhor fingir que estava tudo normal. Seria trabalhoso demais “investigar” esse assunto. Alienação!
O casal chegou em casa às 20 horas e perguntou ao cachorro de estimação onde estava o menino. O cão meneou a cabeça e a escondeu entre os rabos, pois já fazia meses que não era sequer saudado por eles. Tímido, refugiou-se em um canto do quarto do garoto. Era como se dissesse aos pais do menino que aquela retração era o mesmo que acometia o filho deles. Filho? Ah, o menino… Sim, eles tinham um filho! Esquecimento!
O filho? Àquela hora, estava fumando craque com os “amigos”. Ele tinha 14 anos. Ah, meu Deus, ele tinha apenas 14 anos!
Qual era a crise? Agora ela estava escancarada!
O filho estava farto dos discursos dos pais e nada de relacionamento. Somente as perguntas de “ouro” para redimi-los de qualquer responsabilidade (ou irresponsabilidade): “Onde está o boletim? Onde estão os três As? O que está fazendo aí conectado nesta tecnologia?” Cobranças vazias, esvaziadas de qualquer cuidado. O papo dos amigos lhe era mais afetuoso, pois falava à alma dele, carente, solitária e infeliz. E, de tão necessitada de amor, conectou-se na onda da vez – a overdose… Na overdose da sua carência, ele embrenhou-se pela densa mata das drogas e a overdose delas era o seu alento, o substituto do vocabulário materno pelo qual, silenciosamente, ele gritava pelo desejo de possuir.
Qual era a crise? Não era mais possível ignorá-la! Ela deixara de ser crise… agora, estava contextualizada na família. Aterrorizante!
A mãe não conseguiu administrar a situação. Culpou o pai. E, pela primeira vez, mencionou: “Você fez de conta que era pai. Qual dia você se assentou com ele na mesa de um Pub ou Restaurante Japonês para conversarem sobre seus sonhos e desejos de jovem?
Ela surtou. Pediu o divórcio, afinal, nessa história de faz de conta, ela havia aprendido a ser assim como esposa e mãe… Insensatez!
O pai, perdido ficou e continuou a fazer de conta… Agora, que era feliz apesar de tudo. Loucura!
O filho… Ah, o bebê, o garoto? Ficou com o cão. Sozinhos e desamparados, perambulando pelas ruas. E quem buscava amor e proteção acabou tendo de fazer de conta que era alguém. Quem? Nem ele mesmo sabia! Que tragédia!
E quem pagaria por toda essa história de faz de conta real nos dias de hoje? O preço dessa história é impagável: vidas rolando para o abismo profundo e eterno.
São tantas histórias como essa acontecendo em todo o mundo! Mas alguém muito especial esteve aqui, nesta terra real, para deixar paga toda história de vida, toda vida de qualquer história. E não importa em que capítulo a sua esteja, o preço foi pago.
Jesus veio ao mundo para que toda história tenha um final feliz (João 3.16). Não como em contos de fadas, em relatos de faz de conta. Ele redigiu um diálogo de amor para que você possa conversar com Ele por toda a eternidade. Não, não… Você não precisa ser um superprofissional para ser aceito neste reino de amor. Basta abrir a porta do seu coração e deixar o Rei, Jesus, entrar e reinar absoluto (apocalipse 3.20).
Nunca mais o bebê no berçário. Nunca mais o “lar adotivo”, porque você será chamado “filho de Deus” e reinará com Jesus para todo o sempre!
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus. (João 1.12; Efésios 2.19)
Belo Horizonte, 18/11/2015
Sara Bernardes. Copyright.
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